sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Elementos da linguagem fotográfica

Texto e foto: Enio Moraes Júnior

Vista da cidade de Salvador
a partir de da Ilha de  Itaparica, 2009.

Consideramos como elementos de composição da linguagem fotográfica aqueles que estão presentes na cena da própria fotografia, que saem “impressos” na imagem fotográfica. Conhecê-los é importante para um trabalho fotográfico de melhor qualidade estética e informativa.
Donis Dondis (2007: 30), ao fazer uma leitura do funcionamento da comunicação visual, nos ajuda a definir esses elementos: “Na criação de mensagens visuais, o significado não se encontra apenas nos efeitos cumulativos da disposição dos elementos básicos, mas também no mecanismo perceptivo universalmente compartilhado pelo organismo humano. Colocando em termos mais simples: criamos um design a partir de inúmeras cores e formas, texturas, tons e proporções relativas; relacionamos interativamente esses elementos; temos em vista um significado. O resultado é a composição, a intenção do artista, do fotógrafo ou do designer. É seu input”.

01. Ponto
É o referencial da imagem fotográfica.
Normalmente, o ponto é o local para onde se dirige o olhar do observador.

02. Linha
Como observa Ivan Lima (1988: 75): “Os elementos de construção da imagem não são isolados. Todos eles participam do efeito final da imagem”. Assim, o ponto pode determinar uma linha que viabilize a leitura da imagem;
A função das linhas é trazer e conduzir o olhar do observador na foto;
Podem ser fundamentalmente de três tipos:
a) Curvas: traduzem suavidade ou, por outro lado, ação;
b) Horizontais: passam noção de estática; movimento de ida - vinda;
c) Verticais: noção de dinâmica; movimento de subida - descida.

03. Forma
É o contorno de um objeto;
Regra geral é saber realçá-lo e destacá-lo na fotografia. Esse realce pode se dar:
a) Por combinação; transmitindo idéia de paz; harmonia;
b) Por contraste; causando choque, idéia de ação.

04. Padrão
É a repetição de linhas, cores ou formas numa foto;
Geralmente remetem à idéia de:
a) Harmonia: comprobatoriedade; quando se sucedem;
b) Desfalque: quebra; quando por algum motivo aparece uma lacuna no padrão.

05. Textura
É a retratação, na fotografia, da superfície do objeto fotografado;
Consiste em tentar passar ao observador a experiência tátil com o assunto;
A textura (Pés) é conseguida sobretudo através de uma boa iluminação.


06. Espaço
É a proposição, para o observador, do tamanho do objeto fotografado;
A noção de espaço (Líder Vladimir Palmeira) pode ser dada, acima de tudo, a partir de elementos-referenciais na fotografia.

07. Ponto de Vista
É a proposta do fotógrafo; a imagem que ele pretende passar do objeto; de inferioridade, superioridade, equilíbrio, desarmonia, solidão, carência, etc.;
A partir daí, desenrola-se todo o processo de composição da fotografia e aparecem dois elementos extremamente importantes: o ângulo e o enquadramento.

Ângulo
É o modo como o assunto será focado a partir da câmara fotográfica;
Podemos ter basicamente:
a) Abordagem direta: a foto é feita ao nível do olho do fotógrafo. Produz uma imagem estática traduzindo sensações e sentimentos de trivialidade, seriedade ou harmonia;
b) Ângulo baixo: passa noção de superioridade; crescimento;
c) Ângulo alto: dá idéia de inferioridade; diminuição.

Enquadramento
Consiste em selecionar o assunto da foto e a maneira como ele será captado no trabalho.
Enquadrar é, basicamente, uma atividade seletiva. Ao escolher um assunto e arrumá-lo no contexto da foto junto a outros elementos secundários, é inevitável que o fotógrafo realize um corte espacial na imagem;
Tomando como base a prática cinematográfica, podemos enumerá-lo dentro da fotografia em quatro planos fundamentais:
a) Plano Geral: aberto; paisagens;
b) Plano Médio: semi-aberto; grupo de pessoas ou objetos;
c) Plano Fechado ou Close: salienta uma parte específica do assunto; rostos, etc.;
d) Plano de Detalhe: destaca elementos específicos das partes; nariz, boca, etc.

A regra dos terços
A regra dos terços é um sistema oriundo da pintura e bastante usado entre as técnicas de composição fotográfica. Consiste em dividir a imagem do assunto fotografado em nove partes, através de duas linhas paralelas na horizontal e na vertical. Assim teremos um sistema tipo jogo da velha.

A partir daí:
a) querendo passar noção de movimento numa foto, o melhor é enquadrar o objeto em um dos quatro pontos de interseção das retas;
b) o enquadramento de dois objetos em pontos simétricos dá noção de equilíbrio;
c) em três pontos da interseção, com três objetos, temos a noção de um triângulo dinâmico;
d) a regra do 1/3 + 2/3 dá idéia de um contraste dinâmico ao todo da foto.

08. Luz
A luz - foto- é o princípio da fotografia. Logo, saber utilizá-la e “brincar” com os seus efeitos e possibilidades no trabalho fotográfico é de fundamental importância;

09. Cor
A fotografia pode ser:
a) Colorida (cor); convite à brincadeira. A informação está no conjunto da imagem.
b) Em preto e branco (P&B); expressão de seriedade. A informação está em partes da imagem.

10. Tonalidade
É o efeito degradê aparente em fotografias, sobretudo P&B;
Nesse tipo de foto, a tonalidade consegue dois efeitos:
a) Low-key: predominância de escuros;
b) High-key: predominância de claros.

Temas Específicos em Fotografia
A possibilidade de assuntos que podem ser abordados na fotografia é infinita. Qualquer tema pode transformar-se em um motivo para boas fotos, experimentos e registros. Fotografias de natureza, de gente, de animais, de carros, de situações, esportes, artes, espetáculos, etc. povoam as páginas de álbuns de viagens, jornais, revistas e sites. No entanto, cada um dos assuntos escolhidos tem determinadas exigências. Vamos pensar em explorar três instâncias temáticas como recursos didáticos.
1. Fotografia de gente
2. Fotografia de arquitetura
3. Fotografia de ambientes naturais

O registro fotográfico
Podemos considerar o trabalho de registro fotográfico como o trabalho de apuração e codificação das informações fotográficas sobre um determinado tema ou objeto. Ou seja; é o trabalho de buscar, acrescentar e transportar a informação do seu local de acontecimento. Mas para que se possa chegar a um bom trabalho, apontamos quatro leis fundamentais:
1) lançar um olhar pessoal, não-convencional sobre o objeto fotografado;
2) procurar conhecer - progressivamente - as técnicas da boa fotografia;
3) estar atento; saber prever o momento exato do acontecimento para poder registrá-lo, pois “o momento” é único e a fotografia eterniza-o;
4) anotar, sempre que possível, dados sobre o fato fotografado para que depois de revelado o filme ou descarregadas as imagens no computador, você possa saber do que se trata.

O roteiro do registro fotográfico
O roteiro para a proposta de registro fotográfico é o ponto de partida para a utilização da fotografia como recurso didático com os alunos. Nos grandes jornais e revistas equivale à pauta fotográfica, que é preocupação da Editoria de Fotografia.
Apesar de não dever corresponder a uma camisa de força, o professor deve especificar o que quer do aluno-fotógrafo. Não basta oferecer o tema. É importante também agendar as fotos e anotar endereços. É importante levantar hipóteses, sugerir imagens e estimular a curiosidade e sensibilidade do fotógrafo.
No roteiro, deve estar presente a solicitação, por parte do professor, do trabalho que ele deseja que o aluno execute. Deve haver um cuidado muito grande na hora de prepará-lo. Por isso, é preciso que o professor seja criativo, mantenha-se bem informado e tenha um bom lastro cultural.

Um exemplo de roteiro fotográfico
A partir da temática ‘gente’, propomos o seguinte roteiro:

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Disciplina: Tecnologias Aplicadas ao Ensino
Assunto:Tecnologias e tipos humanos
Alunos: - - - - - - - - - - -  - - - - - -  - - - - - - - - - - - - - - - -  - - - -
Local: Ruas e locais públicos de São Paulo

Vamos fazer um trabalho sobre as tecnologias que utilizam os paulistanos e os visitantes da cidade. A tônica devem ser as pessoas - feirantes, clientes, mendigos, transeuntes – e as tecnologias que elas utilizam para se relacionar.
Vamos valorizar a ideia de Formosinho e Machado e trabalhar em equipe. Formem duplas ou trios e procurem registrar o relacionamento hora cordial, hora descortês; hora familiar e cúmplice, hora desafiador e hostil entre as pessoas. Situações incomuns também merecem especial atenção: namoros, paqueras, relacionamentos entre pais e filhos pequenos. Tudo, claro, com ênfase nas tecnologias.
Fotografem também os momentos de vaidade das pessoas nas ruas, nos pontos de ônibus e nas estações de metrô, a moda de adolescentes, membros de tribos urbanas e turistas – e suas tecnologias – que destoam do ambiente e chamam atenção. Registrem as crianças, às vezes perdidas e choronas, às vezes inquietas e ansiosas, em meio à multidão e suas distrações tecnológicas.
Vamos valorizar o que fala Morin sobre a pluralidade humana! Dêem atenção também a mendigos, catadores de lixo e excluídos. Tecnologias? Capte seu olhar, seu semblante. Fotografe seu relacionamento: submisso, fraterno ou mesmo imponente e as tecnologias que os envolve.
Por fim, cada grupo de alunos:
a. Selecionará apenas uma foto e postar nos seus blogs (não esqueça o crédito fotográfico!);
b. Discutirá em textos de 1000 toques, elementos da linguagem fotográfica que estão presentes na imagem e que conteúdos curriculares da sua área de ensino poderiam ser discutidos por meio da referida imagem.

Bom trabalho!!!
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Para pensar:
01. A fotografia digital pode ser uma possibilidade de aplicação das TICs ao ensino?
02. Conceitos como linhas e a regra dos terços podem funcionar no ensino da MATEMÁTICA? Dê sugestões.
03. O uso de sites como o do fotojornalista Evandro Teixeira e Word Press Photo pode auxiliar no ensino da GEOGRAFIA ou da HISTÓRIA? De que forma?
04. O ensino da LITERATURA ou da LÍNGUA PORTUGUESA pode ser auxiliado pela proposição de roteiros fotográficos aos alunos? Como?
05. Sites como o do fotojornalista Evandro Teixeira podem auxiliar em discussões de temas como EDUCAÇÃO e HISTÓRIA DO BRASIL?
06. Esse trabalho pode também auxiliar no ensino, por exemplo, da obra ‘Os Sertões’, de Euclides da Cunha?
07. Pense e discuta com os seus colegas outras aplicações das pesquisas em sites e da proposições de roteiros fotográficos no auxílio do seu trabalho docente.

Referências bibliográficas
BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a Arte. São Paulo: Ática, 1988.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
LIMA, Ivan. A Fotografia é a Sua Linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988.

Um comentário:

  1. Adorei e divulguei. Parabéns pela belíssima ferramenta didática.
    Noeli

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