Enio Moraes Júnior
Introdução
“Sinceramente, não entendo nada de tecnologias. Aliás, nem gosto dessa área. Não sei como vou me sair nessa disciplina”. Essa é uma recepção comum e que chama atenção nas aulas de tecnologias aplicadas à Educação que eventualmente ministro em cursos de pós-graduação voltados para professores.
No entanto, o mal-estar não dura muito. Alunos ‘iniciados’ em práticas tecnológicas em sala de aula – ou até mesmo fora dela, como os usuários contumazes do Orkut, do MSN ou do Twitter – começam a compartilhar suas experiências. Isso gera, no mínimo, uma curiosidade em descobrir esse novo mundo.
De minha parte, costumo provocar que as tecnologias estão bem mais perto de nós do que costumamos pensar: elas são todo e qualquer prolongamento de nós, de nossas possibilidades. São extensões de nós mesmos (McLuhan). Nesse sentido, as roupas que vestimos, os talheres que utilizamos na hora do almoço e até o giz usado para escrever na lousa são tecnologias. Ou seja: as tecnologias estão sempre presentes na nossa vida, no nosso trabalho e até e em sala de aula.
Assinalar as simplicidade das experiências de uso das ‘novas’ tecnologias e constatar que, desde as mais antigas até as mais atuais, sempre permearam o processo de ensino-aprendizagem é abrir caminho para falar do assunto e propor a utilização das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) na educação.
Tecnologias, ensino e atores
No entanto, embora seja fácil defender que as TICs devam servir de instrumento para a Educação nas escolas de hoje, o difícil é entender como isso pode acontecer (Saez, Castells), assinalando os benefícios e as dificuldades do processo. E esse tem sido o grande aprendizado que tenho tido, junto com os meus alunos, ‘iniciados’ ou não.
Em primeiro lugar, é importante considerar que não podemos pensar o uso das tecnologias em sala de aula sem levarmos em conta a forma como a escola se relaciona com elas. Seus recursos e propósitos já devem estar presentes como parte da filosofia de ensino de cada instituição e na proposta pedagógica de cada escola.
No entanto, não tem sido bem assim. No Brasil, grande parte das instituições de ensino e dos governos ainda não parecem preparados para essas propostas. Ainda se confunde inclusão digital com acesso a computadores e à internet. Inclusão é, sobretudo, saber utilizar eficazmente esse equipamento e a conectividade para aprender de novas formas e para produzir conhecimento (Castells).
Em segundo lugar, as ‘novas’ tecnologias implicam não apenas novos comportamentos e novos indivíduos (Morin), mas também a sua utilização como ferramentas educativas requerem novas habilidades didáticas – incluindo metodologia e formas de avaliação, por exemplo – por parte do professor.
Em terceiro lugar, essas mesmas tecnologias requerem novos alunos e novas relações dos estudantes com a aprendizagem (Saez, Moran, Morin), mas, ao mesmo tempo, não conseguiremos isso sem sua utilização.
As tecnologias podem implicar alunos mais comprometidos com o seu saber, com o seu aprendizado. Poderão ser pessoas mais autônomas a partir da certeza de que aprendem não por meio de alguém que ‘detém o saber’, mas por meio de alguém que ‘media o saber’. Esse é, em minha opinião, o novo protagonismo a ser desempenhado na relação professor-aluno.
Experiências com uso de blogs, fotografias e vídeos digitais constituindo apostilas digitais (dos professores), cadernos digitais (dos alunos) ou suportes digitais para trabalhos e avaliações individuais ou em grupo podem trazer vantagens ao processo educativo.
As tecnologias como ‘extensões’
O enredamento (Castells) é talvez a principal vantagem que as tecnologias podem trazer para os três atores diretamente envolvidos na educação: escola, alunos e professores. Ao mesmo tempo, os ganhos do quarto ator - a sociedade – não podem ser desconsiderados.
Entre as vantagens, podemos assinalar:
1. Vinculação ao universo do aluno (Rogers), inserido no universo das tecnologias digitais. Isso pode significar a participação e motivação para as aulas e uma maior socialização entre os colegas e sua produção;
2. Organização e administração do tempo e espaços de virtualidade do aluno, implicando a administração e o ensino do uso dessas tecnologias;
3. Intercâmbio de informações e conhecimentos professor-aluno; aluno-professor; aluno-aluno e professor-professor, estimulando uma construção cooperativa (Moran) do conhecimento;
4. Possibilidade de exercícios de criatividade, pesquisa e redação;
5. Usufruto das liberdades de informação, conhecimento e expressão;
6. Interatividade: da escola, que pode expandir-se além dos muros, do professor e, principalmente, do aluno;
7. Acompanhamento on line, por parte dos pais e da família, do que é produzido pelo aluno;
8. Possibilidade de ensino e exploração da internet como fonte de pesquisa (incluindo as ferramentas Google e YouTube) e do aprofundamento dos conteúdos;
9. Correção e atualização de dados (estima-se que enquanto as enciclopédias tradicionais contenham três erros por página, a enciclopédia digital Wikipédia, por exemplo, possui quatro. Entretanto, a vantagem é que esses erros podem ser facilmente corrigidos);
10. A atemporalidade e a desterritorialização do aluno, do professor e da escola (Barbero) podem afirmar um novo sentido de educação, mais pertinente (Morin), mais complexa e completa.
Especialmente no que diz respeito ao professor, o conjunto da experiência também pode ser enriquecedor sob vários aspectos.
11. A aprendizagem e o ensino como processos contínuos, quase que em real time, são desafios que se colocam para ele como sujeito cognoscente;
12. Além disso, o professor divulga sua produção, experiências e envolve – além dos alunos – outros colegas e funcionários da escola. Essas são possibilidades excelentes para a ‘memória’ de suas aulas e o acompanhamento pessoal de sua produção.
Despreparo, preconceitos e cuidados
O uso das tecnologias na Educação faz parte das dinâmicas e das dificuldades que circundam o ensino, especialmente em países como o Brasil (Jardim). Nem tudo são vantagens, e as TICs ainda sofrem muita resistência nas escolas – seja por parte de diretores, professores, pais e até alunos – que se perguntam se as tecnologias são, de fato, instrumentos educativos.
Nas escolas, têm-se mostrado outros receios. Liberar a internet para as aulas pode levar o aluno a freqüentar sites de compras ou sexo. O que fazer? A produção de vídeos pode levar imagens da escola para o YouTube e gerar celeumas e polêmicas. O que fazer? Como e até que ponto expor alunos e seus nomes e imagens na internet?
Essas são algumas questões sérias diante das quais as escolas, os pais, os alunos e os educadores não podem deixar de se colocar. Mas o que importa é que se busquem e se encontrem respostas para elas. Deslocar-se, sair do lugar confortável e procurar entender o mundo em que se vive é fundamental (Continuum).
Ao mesmo tempo, se, por um lado, muitas pessoas costumam associar os computadores ou as câmeras digitais ao lazer e ao entretenimento, muitos educadores já articulam conceitos como a Educomunicação (Costa) para dar conta dessa discussão.
Enquanto isso, valem os exercícios, as experimentações e, sobretudo, a busca do conhecimento sobre as possibilidades das tecnologias e o bom senso no seu uso como instrumento de ensino.
Considerações finais
“Professor, você não acha que, com o desenvolvimento das tecnologias digitais, as escolas deveriam investir mais nessa área?”, perguntou-me uma aluna. “Acho sim, mas acho principalmente que elas deveriam investir na formação de pessoas humanamente melhores”, respondi.
Se as tecnologias podem ser pensadas com extensões dos homens, é importante que esses homens – que se formam num mundo com maior vigor tecnológico – sejam cada vez melhores para que possam estender cada vez mais sentimentos e saberes melhores.
Manter-se bem informado sobre as dinâmicas educativas (Unesco) é, certamente, uma vantagem, mas nada mais fundamental do que acreditar no mundo e nas pessoas para continuar ensinando. Seja qual for a tecnologia que se use para ensinar - uma postagem no blog, no site ou um cartão de felicitações - tudo vale a pena se existe respeito pelas trocas da relação professor-aluno, ambos compartilhando, permanentemente, o protagonismo do ensino-aprendizagem.
Referências
CASTELLS, Manuel. Internet e sociedade em rede. In: MORAES, Dênis de (Org.). Por uma Outra Comunicação. Rio de Janeiro, Record: 2003. 255-288 pp.
CONTINUUM: Revista do Itaú Cultural: Histórias de Deslocamentos. São Paulo, 15 de outubro de 2008. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/000915.pdf. Acesso em: 20 de outubro de 2008.
COSTA, Maria Cristina Castilho. Educomunicador é preciso. Núcleo de Comunicação e Educação da USP. São Paulo: [s.d.]. Disponível em: http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/7.pdf. Acesso em 02 de março de 2007. 01-08 pp.
JARDIM, João. Pro Dia Nascer Feliz. (idem). Documentário. Brasil, Ravina Filmes. 2006. 88 min.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação com extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1964.
MORAN, José Manuel (A). Novas tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Papirus, 2000.
____ (B). Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologia. Revista de Informática e Educação. [s.l], [s.d].Disponível em: http://www.infoeduc.maisbr.com/arquivos/ensino%20e%20aprendizagem.pdf. Acesso em 19 de setembro de 2007.
_____(C). Os Novos Espaços de Atuação do Professor com as Tecnologias. Revista Diálogo Educacional (PUCPR), Curitiba, PR, v. 4, n. 12, p. 13-21, 2004. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/espacos.htm. Acesso em: 31 de julho de 2009.
MORIN, Edgar. Uma Mundialização Plural. In: MORAES, Dênis de (Org.). Por uma Outra Comunicação. Rio de Janeiro, Record: 2003. 249-365 pp.
ROGERS, Carl R. A pessoa como centro. 2ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
SÁEZ, Victor Manuel (A). Globalización, nuevas tecnologías y comunicación. Madrid: De La Torre, 1999.
____ (B). Globalización, nuevas tecnologías y comunicación. Nodo 50: Contrainformación em la Red. Madrid, [s.d]. Disponível em: http://www.nodo50.org/movicaliedu/victorglobalizacion.pdf. Acesso em 12 de setembro de 2007. 01-04 pp.
UNESCO. www.unesco.org. Acesso em 13 de maio de 2009.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
A vídeo-entrevista como instrumento didático
Texto: Enio Moraes Júnior
Acima, uma recente entrevista (Parte 01) de Edgar Morin
concedida a alunos da Universidade de Brasília (UnB):
o professor provoca, os alunos exercitam as técnicas da entrevista
e a sociedade (via internet) ganha um material fantástico
para enriquecer suas discussões sobre educação
e a sociedade (via internet) ganha um material fantástico
para enriquecer suas discussões sobre educação
A entrevista – seja em mídia impressa, digital, rádio ou televisão – é um instrumento muito comum no âmbito do jornalismo. No Brasil, muito bem trabalhada por nomes como Marília Gabriela e Caco Barcelos, a entrevista é uma das principais fontes de informação sobre os acontecimentos e sua repercussão no país e no mundo.
Cabe ao entrevistado e ao entrevistador explicar, esmiuçar, justificar e argumentar o acontecimento jornalístico. É especialmente por meio do diálogo entre um e outro que se pode entender e amarrar melhor os fatos para levar esse entendimento ao público.
No entanto, a entrevista está além da esfera do jornalismo. Ela é um instrumento importante, por exemplo, nas pesquisas científicas na área das Ciências Sociais. Aqui a entrevista serve como alicerce para que o pesquisador compreenda melhor o assunto pesquisado a partir da fala dos indivíduos diretamente relacionados a esse assunto. Um dos usos mais comuns nessas pesquisas é a entrevista em profundidade.
As facilidades e a acessibilidade às tecnologias de informação e comunicação têm levado a pensar a aplicação da entrevista no ensino. Qual professor de Literatura nunca pensou em convidar um ou outro escritor para conversar com seus alunos em uma de suas aulas? E a contribuição para uma aula que poderia dar aquele geógrafo famoso, aquele jornalista que tem um bom texto ou o ator conhecido que está em cartaz com uma peça do Ariano Suassuna? Nem sempre essas pessoas podem comparecer pessoalmente, aí a vídeo-entrevista pode funcionar como uma possibilidade.Claro que a entrevista pode e deve ser trabalhada em sala de aula no seu formato texto ou áudio, mas o que pretendemos aqui é amplia-la na perspectiva da imagem; da articulação som e imagem. A ideia não é formar vídeomakers, mas estimular pesquisas e uma maior compreensão sobre o uso do vídeo em sala de aula ou como extensão dela.
Já há algum tempo venho estimulando meus alunos-professores a realizar esse tipo de experimentação. Na maior parte das vezes, eles são levados a contar com a colaboração de filhos ou alunos, realizando trabalhos experimentais muito interessantes; emocionantes.
A partir desse ponto, vamos nos ater a um gênero muito simples que pode constituir uma primeira aproximação com o vídeo como instrumento de ensino: a vídeo-entrevista.
Do ponto de vista técnico, é indispensável que o professor, aluno ou grupo que se predisponha a realizar a vídeo-entrevista tenha em mãos um dispositivo de captação de vídeo. Esse dispositivo pode ser desde um celular ou uma máquina fotográfica com essa possibilidade até uma filmadora tipo handcam ou modelos mais sofisticados. Além disso, é importante dispor de um computador em que possa "baixar" e, eventualmente, tratar (editar) as imagens.
Esse trabalho pode ser feito individualmente (por um único professor ou aluno) ou por um grupo de até sete pessoas distribuídas nos cargos de apresentador, produtor, redator, entrevistador, diretor, cinegrafista e editor (mais adiante situamos cada uma das funções).
Três momentos
A vídeo-entrevista implica pelo menos três momentos: planejamento, captação e tratamento (edição) das imagens. A primeira parte, o planejamento, implica pensar o que será capatado e estabelecer uma seqüência de começo, meio e fim da entrevista.
Nesse ponto, o produtor deve pesquisar sobre o tema, sobre o entrevistado e elaborar um roteiro (o que no jornalismo chama-se “pauta”) com a seqüência de perguntas a serem colocadas para a pessoa que será entrevistada.
O roteiro da entrevista apresenta a solicitação, por parte do produtor (ou do professor), do trabalho que ele deseja que o entrevistador (ou o aluno) execute. Por isso, deve haver um cuidado muito grande na hora de prepará-lo para orientar a entrevista e evitar que o assunto principal fique secundarizado.
As informações a respeito de temas e entrevistados podem ser conseguidas em arquivos de jornais, emissoras, conversas com especialistas, enquetes de rua e até na internet. O ideal é que depois o produtor organize e hierarquize as perguntas.
O segundo momento corresponde à captação das imagens. Aqui o vídeo recebe sua forma e conteúdo. Nessa etapa são cuidadas desde a dinâmica das cenas até aquilo que se pretende passar para o telespectador por meio delas.
O diretor pode indicar que o cinegrafista fixe sua câmera num plano entre fechado (próximo) e médio de modo que a cabeça e os braços do entrevistado sejam enquadrados. Nesse caso, o entrevistador não aparece na cena.
O diretor pode indicar que ele - ou um apresentador - faça depois uma “cabeça de apresentação”; aquele momento em que o indivíduo aprece no vídeo introduzindo a entrevista (quem vai falar, sobre o quê) e “chama” o material gravado.
O mesmo diretor pode achar mais interessante, por outro lado, "abrir" o plano (ele pode achar eloquente captar paisagens, pessoas, movimento, por exemplo) e sugerir que o cinegrafista filme entrevistador e entrevistado num plano americano, conversando.
Nesse caso, ele indica que o cinegrafista comece a gravação com a câmera “fechada” no entrevistador (que introduz a entrevista) e finalmente “abra” a câmera nos dois, em plano americano.
A participação de um redator (reponsável pelo texto a ser falado pelo apresentador - ou pelo entrevistador - na "cabeça de apresentação" e, caso o diretor julgue necessário, no encerramento da entrevista) é possível na constituição da equipe.
O terceiro momento, finalmente, compreende o tratamento (edição) das imagens. Aqui pode ser usado um programa de fácil manuseio e bastante conhecido dos adolescentes adeptos do YouTube: o Windows Movie Maker.
Por meio dele, o editor pode fazer cortes nas imagens e insere "caracteres" (nome do programa, do entrevistado e equipe técnica). Além desse programa, boas opções estão disponíveis no mercado e são vendidas junto com as câmeras de vídeo. Basta instalar o CD que permite que as imagens sejam “baixadas” no computador e o programa aparece como uma alternativa.
Dicas
O maior segredo para uma entrevista bem sucedida é o (1) entrosamento do entrevistador e toda equipe com o tema e com o entrevistado. Saber lidar e ganhar o entrevistado, desbloquear os canais para a conversa, é um ponto chave que o entrevistador tem que vencer.
Segundo Cremilda Medina (1993), a entrevista não deve ser um monólogo em que só o entrevistador (repórter, no caso do jornalismo) tem o controle do que é dito, geralmente limitado a um conjunto de idéias pré-concebidas, mas um diálogo entre ele e o entrevistado, favorecendo a relação entrevistador – entrevistado - receptor.
“Um leitor, ouvinte ou espectador sente quando determinada entrevista passa emoção, autenticidade, no discurso enunciado tanto pelo entrevistado quanto no encaminhamento das perguntas pelo entrevistador”, argumenta.
É importante pensar que (2) entrevistar é, sobretudo, dialogar. Medina observa a importância de conceber a entrevista nas suas virtudes dialógicas:
No cotidiano do homem contemporâneo há espaço para o diálogo possível. Estão aí experiências ou exceções à regra que provam o grau de concretização da entrevista na comunicação coletiva. Sua maior ou menor comunicação está diretamente relacionada com a humanização do contato interativo: quando, em um desses raros momentos, ambos – entrevistado e entrevistador – saem “alterados” do encontro, a técnica foi ultrapassada pela intimidade entre o EU e o TU. Tanto um como outro se modificaram, alguma coisa aconteceu que os perturbou, fez-se luz em certo conceito ou comportamento, elucidou-se determinada compreensão do mundo. Ou seja, realizou-se o diálogo possível.
Uma outra dica é que (3) o entrevistador e sua equipe se concentrem no seu trabalho; prestem atenção ao que diz o entrevistado. Uma informação inusitada pode reorientar toda a entrevista, estimulando perguntas mais interessantes que não haviam sido consideradas no roteiro inicial.
É importante também (4) agendar (e, eventualmente, confirmar) as entrevistas, (5) ser pontual e (6) estar vestido de acordo com o local onde irá fazer o trabalho. Outra coisa, o tempo: uma entrevista (editada) com mais de meia hora torna-se exaustiva. Portanto, é sensato que se procure (7) não ultrapassar os 40 minutos de material gravado. Especialmente no que diz respeito ao entrevistador, (8) usar um português claro ao falar e articular perguntas são aspectos desejáveis.
O roteiro da vídeo-entrevista
O trabalho de entrevista com recurso didático ultrapassa os limites da sala de aula e, em grande medida, leva para além dos muros da escola a qualidade do seu ensino, dos seus professores e alunos.
Para evitar gafes e vexames, é preciso os membros da equipe sejam criativos e estejam bem informados sobre o tema e o entrevistado. Veja um exemplo de roteiro para um trabalho de vídeo-entrevista:
Disciplina: Tecnologias da Informação e da Comunicação Aplicadas ao Ensino
Assunto: As possibilidades do uso das tecnologias em sala de aula
Aluno (s):____________________________________________
Data: 29/09/09
Local: USP
Vamos fazer um trabalho sobre as possibilidades do uso das tecnologias da informação e da comunicação em sala de aula. A entrevista é com um especialista e pesquisador da área, o professor do curso de Comunicação das Faculdades Integradas Alcântara Machado, Enio Moraes Júnior.
Ele é doutorando em Comunicação pela USP pode conversar sobre as vantagens e os limites do uso das TICS aplicadas ao ensino. Vale a pena conhecer um importante acervo dos seus pensamentos e publicações no site www.blogdoenio.blospot.com. Leia especialmente o texto “Novas mídias, novos homens. Novas extensões?”, disponível no blog.
Perguntas:
1. Qual a sua formação entrevistado?
2. Como surgiu o interesse pelas novas tecnologias no ensino?
3. O que há de positivo e de negativo no uso das tecnologias da informação e da comunicação em sala de aula?
4. Quais os recursos – humanos e materiais – necessários para aplicar as tecnologias em sala de aula?
5. As escolas estão dispostas e preparadas para essas mudanças?
6. Como essas TICs redefinem a compreensão que temos dos papéis do professor e do aluno até agora?
7. Como elas alteram do sentido da educação que construímos até o século XX?
8. O que pode vir a ser a educação no século XIX a partir dessas tecnologias?
9. As tecnologias têm conseguido fazer as pessoas mais felizes?
10. Considerando o seu interesse especial pela cidadania, você acha que tecnologias da comunicação e democratização da informação são a mesma coisa?
A entrevista está agendada para esta segunda-feira, 29/09, às 15h30, na biblioteca da ECA / USP (na Cidade Universitária). O contato dele para confirmar a entrevista: emoraesj@usp.br. Boa sorte!
Para pensar:
01. A entrevista pode ser uma possibilidade de aplicação das TICs ao ensino?
02. Você já pensou em levar o escritor Marçal Aquino, a professora Rita Couto ou a filósofa Márcia Tiburi para a sua aula e sabe que é quase impossível. A vídeo-entrevista pode funcionar como uma possibilidade?
03. O ensino dos conteúdos gramaticais da LÍNGUA PORTUGUESA pode ser auxiliado pela proposição de roteiros de vídeo-entrevistas aos alunos? Como?
04. O ensino da LITERATURA, da HISTÓRIA DO BRASIL ou da MATEMÁTICA pode ser auxiliado, NUM TRABALHO DE CONSTRUÇÃO COOPERATIVA, a partir da proposição de vídeo-entrevistas aos alunos? De que forma?
05. Se bem orientada, a entrevista com um ‘diálogo em que entrevistado e entrevistador saem modificados’ pode ajudar em questões paralelas aos conteúdos como a socialização e a auto-estima dos alunos?
06. Questões como o trabalho de ‘memória’ das suas aulas e da sua atuação docente podem ser beneficiadas com esse tipo de recurso?
07. Pense e discuta com os seus colegas outras aplicações da vídeo-entrevista no auxílio do seu trabalho docente.
Referências bibliográficas:
MARSAGÃO, Marcelo. Um pouco mais, um pouco menos. 17’. In: Nós que aqui estamos, por vós esperamos. São Paulo, 2002. 1 DVD. 73 min.
MEDINA, Cremilda. Entrevista: O diálogo possível. São Paulo: Ática, 1993.
MEIRELLES, Fernando (Blindness). Ensaio Sobre a Cegueira. Drama. Japão, Brasil, Canadá. O2 Filmes e outros, 2008. 120 min.
RAMOS, Daniela. Entrevista em vídeo concedida a Enio Moraes Júnior. Faculdade Cásper Líbero. São Paulo, 21 de setembro de 2009.
SARAMAGO, José. Ensaio Sobre a Cegueira. São Paulo: Cia. Das Letras, 1995.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Elementos da linguagem fotográfica
Texto e foto: Enio Moraes Júnior
Vista da cidade de Salvador
a partir de da Ilha de Itaparica, 2009.
Consideramos como elementos de composição da linguagem fotográfica aqueles que estão presentes na cena da própria fotografia, que saem “impressos” na imagem fotográfica. Conhecê-los é importante para um trabalho fotográfico de melhor qualidade estética e informativa.
Donis Dondis (2007: 30), ao fazer uma leitura do funcionamento da comunicação visual, nos ajuda a definir esses elementos: “Na criação de mensagens visuais, o significado não se encontra apenas nos efeitos cumulativos da disposição dos elementos básicos, mas também no mecanismo perceptivo universalmente compartilhado pelo organismo humano. Colocando em termos mais simples: criamos um design a partir de inúmeras cores e formas, texturas, tons e proporções relativas; relacionamos interativamente esses elementos; temos em vista um significado. O resultado é a composição, a intenção do artista, do fotógrafo ou do designer. É seu input”.
01. Ponto
É o referencial da imagem fotográfica.
Normalmente, o ponto é o local para onde se dirige o olhar do observador.
02. Linha
Como observa Ivan Lima (1988: 75): “Os elementos de construção da imagem não são isolados. Todos eles participam do efeito final da imagem”. Assim, o ponto pode determinar uma linha que viabilize a leitura da imagem;
A função das linhas é trazer e conduzir o olhar do observador na foto;
Podem ser fundamentalmente de três tipos:
a) Curvas: traduzem suavidade ou, por outro lado, ação;
b) Horizontais: passam noção de estática; movimento de ida - vinda;
c) Verticais: noção de dinâmica; movimento de subida - descida.
03. Forma
É o contorno de um objeto;
Regra geral é saber realçá-lo e destacá-lo na fotografia. Esse realce pode se dar:
a) Por combinação; transmitindo idéia de paz; harmonia;
b) Por contraste; causando choque, idéia de ação.
04. Padrão
É a repetição de linhas, cores ou formas numa foto;
Geralmente remetem à idéia de:
a) Harmonia: comprobatoriedade; quando se sucedem;
b) Desfalque: quebra; quando por algum motivo aparece uma lacuna no padrão.
05. Textura
É a retratação, na fotografia, da superfície do objeto fotografado;
Consiste em tentar passar ao observador a experiência tátil com o assunto;
A textura (Pés) é conseguida sobretudo através de uma boa iluminação.
06. Espaço
É a proposição, para o observador, do tamanho do objeto fotografado;
A noção de espaço (Líder Vladimir Palmeira) pode ser dada, acima de tudo, a partir de elementos-referenciais na fotografia.
07. Ponto de Vista
É a proposta do fotógrafo; a imagem que ele pretende passar do objeto; de inferioridade, superioridade, equilíbrio, desarmonia, solidão, carência, etc.;
A partir daí, desenrola-se todo o processo de composição da fotografia e aparecem dois elementos extremamente importantes: o ângulo e o enquadramento.
Ângulo
É o modo como o assunto será focado a partir da câmara fotográfica;
Podemos ter basicamente:
a) Abordagem direta: a foto é feita ao nível do olho do fotógrafo. Produz uma imagem estática traduzindo sensações e sentimentos de trivialidade, seriedade ou harmonia;
b) Ângulo baixo: passa noção de superioridade; crescimento;
c) Ângulo alto: dá idéia de inferioridade; diminuição.
Enquadramento
Consiste em selecionar o assunto da foto e a maneira como ele será captado no trabalho.
Enquadrar é, basicamente, uma atividade seletiva. Ao escolher um assunto e arrumá-lo no contexto da foto junto a outros elementos secundários, é inevitável que o fotógrafo realize um corte espacial na imagem;
Tomando como base a prática cinematográfica, podemos enumerá-lo dentro da fotografia em quatro planos fundamentais:
a) Plano Geral: aberto; paisagens;
b) Plano Médio: semi-aberto; grupo de pessoas ou objetos;
c) Plano Fechado ou Close: salienta uma parte específica do assunto; rostos, etc.;
d) Plano de Detalhe: destaca elementos específicos das partes; nariz, boca, etc.
A regra dos terços
A regra dos terços é um sistema oriundo da pintura e bastante usado entre as técnicas de composição fotográfica. Consiste em dividir a imagem do assunto fotografado em nove partes, através de duas linhas paralelas na horizontal e na vertical. Assim teremos um sistema tipo jogo da velha.
A partir daí:
a) querendo passar noção de movimento numa foto, o melhor é enquadrar o objeto em um dos quatro pontos de interseção das retas;
b) o enquadramento de dois objetos em pontos simétricos dá noção de equilíbrio;
c) em três pontos da interseção, com três objetos, temos a noção de um triângulo dinâmico;
d) a regra do 1/3 + 2/3 dá idéia de um contraste dinâmico ao todo da foto.
08. Luz
A luz - foto- é o princípio da fotografia. Logo, saber utilizá-la e “brincar” com os seus efeitos e possibilidades no trabalho fotográfico é de fundamental importância;
09. Cor
A fotografia pode ser:
a) Colorida (cor); convite à brincadeira. A informação está no conjunto da imagem.
b) Em preto e branco (P&B); expressão de seriedade. A informação está em partes da imagem.
10. Tonalidade
É o efeito degradê aparente em fotografias, sobretudo P&B;
Nesse tipo de foto, a tonalidade consegue dois efeitos:
a) Low-key: predominância de escuros;
b) High-key: predominância de claros.
Temas Específicos em Fotografia
A possibilidade de assuntos que podem ser abordados na fotografia é infinita. Qualquer tema pode transformar-se em um motivo para boas fotos, experimentos e registros. Fotografias de natureza, de gente, de animais, de carros, de situações, esportes, artes, espetáculos, etc. povoam as páginas de álbuns de viagens, jornais, revistas e sites. No entanto, cada um dos assuntos escolhidos tem determinadas exigências. Vamos pensar em explorar três instâncias temáticas como recursos didáticos.
1. Fotografia de gente
2. Fotografia de arquitetura
3. Fotografia de ambientes naturais
O registro fotográfico
Podemos considerar o trabalho de registro fotográfico como o trabalho de apuração e codificação das informações fotográficas sobre um determinado tema ou objeto. Ou seja; é o trabalho de buscar, acrescentar e transportar a informação do seu local de acontecimento. Mas para que se possa chegar a um bom trabalho, apontamos quatro leis fundamentais:
1) lançar um olhar pessoal, não-convencional sobre o objeto fotografado;
2) procurar conhecer - progressivamente - as técnicas da boa fotografia;
3) estar atento; saber prever o momento exato do acontecimento para poder registrá-lo, pois “o momento” é único e a fotografia eterniza-o;
4) anotar, sempre que possível, dados sobre o fato fotografado para que depois de revelado o filme ou descarregadas as imagens no computador, você possa saber do que se trata.
O roteiro do registro fotográfico
O roteiro para a proposta de registro fotográfico é o ponto de partida para a utilização da fotografia como recurso didático com os alunos. Nos grandes jornais e revistas equivale à pauta fotográfica, que é preocupação da Editoria de Fotografia.
Apesar de não dever corresponder a uma camisa de força, o professor deve especificar o que quer do aluno-fotógrafo. Não basta oferecer o tema. É importante também agendar as fotos e anotar endereços. É importante levantar hipóteses, sugerir imagens e estimular a curiosidade e sensibilidade do fotógrafo.
No roteiro, deve estar presente a solicitação, por parte do professor, do trabalho que ele deseja que o aluno execute. Deve haver um cuidado muito grande na hora de prepará-lo. Por isso, é preciso que o professor seja criativo, mantenha-se bem informado e tenha um bom lastro cultural.
Um exemplo de roteiro fotográfico
A partir da temática ‘gente’, propomos o seguinte roteiro:
___________________________________________
Disciplina: Tecnologias Aplicadas ao Ensino
Disciplina: Tecnologias Aplicadas ao Ensino
Assunto:Tecnologias e tipos humanos
Alunos: - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Local: Ruas e locais públicos de São Paulo
Vamos fazer um trabalho sobre as tecnologias que utilizam os paulistanos e os visitantes da cidade. A tônica devem ser as pessoas - feirantes, clientes, mendigos, transeuntes – e as tecnologias que elas utilizam para se relacionar.
Vamos valorizar a ideia de Formosinho e Machado e trabalhar em equipe. Formem duplas ou trios e procurem registrar o relacionamento hora cordial, hora descortês; hora familiar e cúmplice, hora desafiador e hostil entre as pessoas. Situações incomuns também merecem especial atenção: namoros, paqueras, relacionamentos entre pais e filhos pequenos. Tudo, claro, com ênfase nas tecnologias.
Fotografem também os momentos de vaidade das pessoas nas ruas, nos pontos de ônibus e nas estações de metrô, a moda de adolescentes, membros de tribos urbanas e turistas – e suas tecnologias – que destoam do ambiente e chamam atenção. Registrem as crianças, às vezes perdidas e choronas, às vezes inquietas e ansiosas, em meio à multidão e suas distrações tecnológicas.
Vamos valorizar o que fala Morin sobre a pluralidade humana! Dêem atenção também a mendigos, catadores de lixo e excluídos. Tecnologias? Capte seu olhar, seu semblante. Fotografe seu relacionamento: submisso, fraterno ou mesmo imponente e as tecnologias que os envolve.
Por fim, cada grupo de alunos:
a. Selecionará apenas uma foto e postar nos seus blogs (não esqueça o crédito fotográfico!);
b. Discutirá em textos de 1000 toques, elementos da linguagem fotográfica que estão presentes na imagem e que conteúdos curriculares da sua área de ensino poderiam ser discutidos por meio da referida imagem.
Por fim, cada grupo de alunos:
a. Selecionará apenas uma foto e postar nos seus blogs (não esqueça o crédito fotográfico!);
b. Discutirá em textos de 1000 toques, elementos da linguagem fotográfica que estão presentes na imagem e que conteúdos curriculares da sua área de ensino poderiam ser discutidos por meio da referida imagem.
Bom trabalho!!!
__________________________________________
Para pensar:
01. A fotografia digital pode ser uma possibilidade de aplicação das TICs ao ensino?
02. Conceitos como linhas e a regra dos terços podem funcionar no ensino da MATEMÁTICA? Dê sugestões.
03. O uso de sites como o do fotojornalista Evandro Teixeira e Word Press Photo pode auxiliar no ensino da GEOGRAFIA ou da HISTÓRIA? De que forma?
04. O ensino da LITERATURA ou da LÍNGUA PORTUGUESA pode ser auxiliado pela proposição de roteiros fotográficos aos alunos? Como?
05. Sites como o do fotojornalista Evandro Teixeira podem auxiliar em discussões de temas como EDUCAÇÃO e HISTÓRIA DO BRASIL?
06. Esse trabalho pode também auxiliar no ensino, por exemplo, da obra ‘Os Sertões’, de Euclides da Cunha?
07. Pense e discuta com os seus colegas outras aplicações das pesquisas em sites e da proposições de roteiros fotográficos no auxílio do seu trabalho docente.
Referências bibliográficas
BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a Arte. São Paulo: Ática, 1988.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
LIMA, Ivan. A Fotografia é a Sua Linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Blá-blé-bli-bló-blog
Texto: Enio Moraes Júnior

Quando Gutenberg criou os tipos móveis no século XV nem de longe imaginava que um dia redimensionaríamos seu invento e o transformaríamos em fluidas letras que acenam nas telas dos computadores. Embora muito já tenhamos escrito e lido sobre a aplicação das tecnologias informacionais e comunicacionais na educação e a utilização da blogosfera nesse contexto, por mais que professores venham fazendo, junto com os seus alunos, experimentações nesse sentido, cada experiência, em cada realidade escolar, traz resultados diferentes. Algumas vezes são respostas muito positivas no processo ensino-aprendizagem, outras vezes, nem tanto. Em todo caso, sempre são aprendizados.
O fato é que há algum tempo vêm sendo realizadas experiências nessa área e, na maior parte das vezes, são confirmadas as vantagens dessas incursões. Do ponto de vista didático, tem chamado atenção a dinamização da relação professor-aluno via e-mail e Orkut e a diversidade de fontes de informação que essas tecnologias, sobretudo a internet, oferecem para pesquisas de docentes e discentes.
O que é um BLOG? from iGovSP on Vimeo.
Foco no estudante - Especialmente no caso dos estudantes do ensino fundamental e médio, esse tipo de experiência tem feito eco ao pensamento de Carl Rogers (1973) ao falar do ensino centrado no estudante e em seu universo. Como informa uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, “para conseguirem a atenção das crianças, instituições de ensino se adaptam à realidade do seu público-alvo, acostumado, desde cedo, a ter acesso a ferramentas tecnológicas”. Com isso, os alunos têm demonstrado maior entusiasmo para as aulas e, de quebra, os pais podem acompanhar pela rede a produção dos filhos.
Os cursos de graduação também têm investido pesado nas tecnologias. Mas a grande surpresa é ver como elas repercutem nos cursos de pós-graduação para professores, embora caibam – especialmente nesses casos – considerar que há também desvantagens na utilização dessas tecnologias em sala de aula.
As experiências têm mostrado que as tecnologias têm afastado os alunos do contato físico entre eles nos trabalhos em grupo e, eventualmente, estimulado a dispersão e a desatenção em relação ao que lhe é solicitado, já que o e-mail do colega ou do professor pode compensar seu descuido. No âmbito avaliativo, o maior problema é a “ciber-cola”: uma sondagem apressada em sites de busca como o Google ou o Yahoo! e pronto: eis o trabalho a ser entregue ao professor.
No entanto, o uso das tecnologias em sala de aula é uma conseqüência da sua presença no cotidiano. Parodiando McLuhan (1964), que nos anos 60 disse que “os meios de comunicação são extensões do homem”, considero a presença das tecnologias no processo ensino-aprendizagem é uma conseqüência do seu uso na vida fora da sala de aula. Sendo assim, é difícil fugir desse paradigma, mesmo que seja para questioná-lo e tentar entender o tipo de mundo que estamos criando.
Buscando exatamente essa reflexão, realizei há pouco menos de um ano algumas experiências com alunos de cursos de graduação e de pós-graduação de escolas de São Paulo. Nesses espaços temos elaborado trabalhos com tecnologias e suportes digitais: blogs, fotos e vídeos a serem disponibilizados na internet. De forma geral, a experiência revelou-se extremamente grata tanto para mim como para os alunos.
Tutorial BLOG passo a passo from iGovSP on Vimeo.
Blogs e cia. - Estamos caminhando e ainda aprendendo, diga-se de passagem, da forma como eu realmente acho que deve funcionar o processo ensino-aprendizagem: eu e eles, eu com eles e eles comigo. Mas de uma coisa acho que podemos ficar certos: criar um blogs não é tão simples quanto se pensa.
Ter o mouse na mão é o mais fácil. A idéia na cabeça não é tão difícil... O grande desafio para criar e manter um blog, acho que quanto a isso eu e os meus alunos temos um consenso, é ter repertório para articular as diferentes idéias em nome daquilo que costumamos denominar “produção do conhecimento”. Nesse desafio a internet, os blogs, os fotologs e os videologs são apenas instrumentos.
Castells (2003), ao falar sobre tecnologias e educação, observa que a divisão social promovida pela internet não é aquela entre quem tem e quem não tem acesso a ela, mas entre aqueles que têm condições de utilizar o conhecimento que ela disponibiliza para “aprender a aprender” e aqueles que não o têm. Portanto, ter um blog ou afim pode realmente ser uma grande brincadeira disponibilizada a partir das tecnologias que hoje nos rodeiam, mas pode ser também um espaço muito sério para conhecer e produzir conhecimento, que é, enfim, o objetivo de qualquer bom projeto educacional.
A novidade trazida pela aplicação das tecnologias em sala de aula não é o seu uso e ou os seus suportes, mas o que podemos aprender e construir com suas ferramentas. Se conseguirmos utilizá-las para refletir e discutir sobre um mundo melhor, mais justo e ambientalmente sustentável, utilizando-as como meios de “aprender a aprender”, estaremos num caminho coerente.
Utilizar as tecnologias que estão tecnicamente disponíveis no cotidiano e trabalhá-las em sala de aula como um estímulo à reflexão, à criação e à humanização é, certamente, um dos caminhos para possibilitar a educação e o aprimoramento das ferramentas para a construção desse futuro. Redimensionando o invento que Gutenberg desenvolveu há muitos séculos, estamos – eu e meus alunos – nos arriscando em novas descobertas e dúvidas, mas aprendendo. Entre erros a acertos compartilhamos as nossas tentativas de aprender o bê-a-bá... Ou melhor: o blá-blé-bli e bló dos blogs! E isso é educação.
Referências bibliográficas
ARRAIS, Daniela. Escolas usam games e blogs para ensinar. Folha On Line. São Paulo, 30 de agosto de 2008. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u439546.shtml. Acessado em: 30 de setembro de 2008.
CASTELLS, Manuel. Sociedade em Rede. IN: MORAES, Denis de (org). Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003.
CONTINUUM: Revista do Itaú Cultural: Histórias de Deslocamentos. São Paulo, 15 de outubro de 2008. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/000915.pdf. Acesso em: 20 de outubro de 2008.
Imagem: tangaslesbicas.wordpress.com

As atuais tecnologias e suas ferramentas são instrumentos eficazes no processo ensino-aprendizagem. Precisamos apenas aprender esta e outras lições...
Quando Gutenberg criou os tipos móveis no século XV nem de longe imaginava que um dia redimensionaríamos seu invento e o transformaríamos em fluidas letras que acenam nas telas dos computadores. Embora muito já tenhamos escrito e lido sobre a aplicação das tecnologias informacionais e comunicacionais na educação e a utilização da blogosfera nesse contexto, por mais que professores venham fazendo, junto com os seus alunos, experimentações nesse sentido, cada experiência, em cada realidade escolar, traz resultados diferentes. Algumas vezes são respostas muito positivas no processo ensino-aprendizagem, outras vezes, nem tanto. Em todo caso, sempre são aprendizados.
O fato é que há algum tempo vêm sendo realizadas experiências nessa área e, na maior parte das vezes, são confirmadas as vantagens dessas incursões. Do ponto de vista didático, tem chamado atenção a dinamização da relação professor-aluno via e-mail e Orkut e a diversidade de fontes de informação que essas tecnologias, sobretudo a internet, oferecem para pesquisas de docentes e discentes.
O que é um BLOG? from iGovSP on Vimeo.
Foco no estudante - Especialmente no caso dos estudantes do ensino fundamental e médio, esse tipo de experiência tem feito eco ao pensamento de Carl Rogers (1973) ao falar do ensino centrado no estudante e em seu universo. Como informa uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, “para conseguirem a atenção das crianças, instituições de ensino se adaptam à realidade do seu público-alvo, acostumado, desde cedo, a ter acesso a ferramentas tecnológicas”. Com isso, os alunos têm demonstrado maior entusiasmo para as aulas e, de quebra, os pais podem acompanhar pela rede a produção dos filhos.
Os cursos de graduação também têm investido pesado nas tecnologias. Mas a grande surpresa é ver como elas repercutem nos cursos de pós-graduação para professores, embora caibam – especialmente nesses casos – considerar que há também desvantagens na utilização dessas tecnologias em sala de aula.
As experiências têm mostrado que as tecnologias têm afastado os alunos do contato físico entre eles nos trabalhos em grupo e, eventualmente, estimulado a dispersão e a desatenção em relação ao que lhe é solicitado, já que o e-mail do colega ou do professor pode compensar seu descuido. No âmbito avaliativo, o maior problema é a “ciber-cola”: uma sondagem apressada em sites de busca como o Google ou o Yahoo! e pronto: eis o trabalho a ser entregue ao professor.
No entanto, o uso das tecnologias em sala de aula é uma conseqüência da sua presença no cotidiano. Parodiando McLuhan (1964), que nos anos 60 disse que “os meios de comunicação são extensões do homem”, considero a presença das tecnologias no processo ensino-aprendizagem é uma conseqüência do seu uso na vida fora da sala de aula. Sendo assim, é difícil fugir desse paradigma, mesmo que seja para questioná-lo e tentar entender o tipo de mundo que estamos criando.
Buscando exatamente essa reflexão, realizei há pouco menos de um ano algumas experiências com alunos de cursos de graduação e de pós-graduação de escolas de São Paulo. Nesses espaços temos elaborado trabalhos com tecnologias e suportes digitais: blogs, fotos e vídeos a serem disponibilizados na internet. De forma geral, a experiência revelou-se extremamente grata tanto para mim como para os alunos.
Tutorial BLOG passo a passo from iGovSP on Vimeo.
Blogs e cia. - Estamos caminhando e ainda aprendendo, diga-se de passagem, da forma como eu realmente acho que deve funcionar o processo ensino-aprendizagem: eu e eles, eu com eles e eles comigo. Mas de uma coisa acho que podemos ficar certos: criar um blogs não é tão simples quanto se pensa.
Ter o mouse na mão é o mais fácil. A idéia na cabeça não é tão difícil... O grande desafio para criar e manter um blog, acho que quanto a isso eu e os meus alunos temos um consenso, é ter repertório para articular as diferentes idéias em nome daquilo que costumamos denominar “produção do conhecimento”. Nesse desafio a internet, os blogs, os fotologs e os videologs são apenas instrumentos.
Castells (2003), ao falar sobre tecnologias e educação, observa que a divisão social promovida pela internet não é aquela entre quem tem e quem não tem acesso a ela, mas entre aqueles que têm condições de utilizar o conhecimento que ela disponibiliza para “aprender a aprender” e aqueles que não o têm. Portanto, ter um blog ou afim pode realmente ser uma grande brincadeira disponibilizada a partir das tecnologias que hoje nos rodeiam, mas pode ser também um espaço muito sério para conhecer e produzir conhecimento, que é, enfim, o objetivo de qualquer bom projeto educacional.
A novidade trazida pela aplicação das tecnologias em sala de aula não é o seu uso e ou os seus suportes, mas o que podemos aprender e construir com suas ferramentas. Se conseguirmos utilizá-las para refletir e discutir sobre um mundo melhor, mais justo e ambientalmente sustentável, utilizando-as como meios de “aprender a aprender”, estaremos num caminho coerente.
Utilizar as tecnologias que estão tecnicamente disponíveis no cotidiano e trabalhá-las em sala de aula como um estímulo à reflexão, à criação e à humanização é, certamente, um dos caminhos para possibilitar a educação e o aprimoramento das ferramentas para a construção desse futuro. Redimensionando o invento que Gutenberg desenvolveu há muitos séculos, estamos – eu e meus alunos – nos arriscando em novas descobertas e dúvidas, mas aprendendo. Entre erros a acertos compartilhamos as nossas tentativas de aprender o bê-a-bá... Ou melhor: o blá-blé-bli e bló dos blogs! E isso é educação.
Referências bibliográficas
ARRAIS, Daniela. Escolas usam games e blogs para ensinar. Folha On Line. São Paulo, 30 de agosto de 2008. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u439546.shtml. Acessado em: 30 de setembro de 2008.
CASTELLS, Manuel. Sociedade em Rede. IN: MORAES, Denis de (org). Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003.
CONTINUUM: Revista do Itaú Cultural: Histórias de Deslocamentos. São Paulo, 15 de outubro de 2008. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/000915.pdf. Acesso em: 20 de outubro de 2008.
McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1964.
ROGERS, Carl R. Tornar-se Pessoa. Lisboa: Moraes Editores (Martins Fontes), 1973.
ROGERS, Carl R. Tornar-se Pessoa. Lisboa: Moraes Editores (Martins Fontes), 1973.
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